quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Pintura sem guache nem tinta fresca
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(Mentira. Fiz no primeiro semestre como trabalho final de uma disciplina da faculdade onde a gente aprende a usar o photoshop)
22
sábado, 13 de dezembro de 2008
Dina Maria Martins*
de uma sertaneja que desafiou
a estrutura patriarcal secular
Foi rompendo estruturas predominantemente masculinas que a menina astuciosa, por vezes malcriada, tornou-se vaqueira e aboiadora. Tornou-se mulher. Afinal, como afirmou Simone de Beauvoir em O segundo sexo (1949), “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Os indivíduos vão constituindo as identidades a partir da repetição dos códigos sociais matriciais. Dina, nascida cinco anos depois dos escritos, em 1954, desmistificou a lógica tão veementemente criticada pela escritora francesa.
A primeira barreira a enfrentar foi os homens da casa. Os sete irmãos opunham-se a ter uma irmã fazendo serviços de homem. Foi na figura paterna que a sertaneja encontrou o refúgio e o incentivo. O pai, José Martins da Silva, deu-lhe o inseparável companheiro de peripécias, o cavalo Estrelinha cujos banhos de juá renovava-lhe o pêlo. Martins ajudou ainda a alcunhar Dina como a “Mulher Vaqueira”.
Aos quatorze anos, o pai a incumbiu de ajudar a capturar a rês do vizinho. Não pensou duas vezes. Largou o café que tinha para fazer e foi lançar-se rumo ao destino. Os olhos dela se avivam ao lembrar o episódio que a fez entrar definitivamente para o mundo da vaquejada. Um mundo que lhe reservaria ainda as surpresas do amor.
Numa das Missas do Vaqueiro, a morena de tez bronzeada pelo sol sertanejo surpreendeu pelas doçuras do amor. Encantou-se pelo vaqueiro Fernando cujos olhos azuis desassossegaram-lhe o coração. Encontrara o companheirismo de um homem que teve a sensibilidade de entender e compartilhar com ela a paixão pela vaquejada. Tanto encanto rendeu ao casal três filhos: Júlio, Iris e Ângela.
Dezessete anos depois de casados, Fernando deixou ser seduzido pela face serena da moça Caetana, a morte para os sertanejos. O que Deus uniu só ele separa. Fernando foi então descansar no divino. Libertou-se da tristeza que lhe acometera depois de ter sido enganado por um mau negócio feito pelo melhor amigo.
Dina teve que firmar ainda mais a força que lhe é própria. Durante a missa em homenagem ao marido, aprumou a voz para aboiar a história de Fernando. A cantoria melódica que outrora desafiara Luiz Gonzaga em uma das Missas do Vaqueiro entoou toda a dor e agonia pela perda do marido.
Dina é a face do sertão que poucos conhecem. É a face que os autores propalaram nos romances, num possível exercício de futurologia. Dina é a Diadorim, personagem de Guimarães Rosas, “desmontada”. Não precisa vestir-se como homem, ainda que use vestes de vaqueiro. É na riqueza dos detalhes femininos que acontece o “desmonte”. Brincos, anéis, batons, maquiagem, tudo isso mostra uma mulher vaidosa e feminina.
Demonstra um sertão que se envaidece de sua grandeza e de sua força. Um sertão repleto de Dinas que ainda se escondem na hostilidade do lar. Demorou, mas hoje o sertão reconhece Dina, consagrando-a como uma grande Mestra da Cultura, valorizando a arte de aboiar e a figura do vaqueiro.
*Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso. A Entrevista com Dona Dina será prublicada na Revista Entrevista N°21, uma publicação do sétimo e sexto semestres do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Matéria na Envolverde
Para ler, basta clicar no link abaixo:
Nem tudo que reluz é ouro. Pode ser soja
A Reportagem foi publicada originalmente na revista Meio Ambiente e Mudanças Climáticas na Amazônia, que reúne matérias de participantes do Laboratório Ambiental de Jornalismo promovido pela Fundação Konrad Adenauer, realizado no mês de junho, em Santarém (PA). Para baixar a revista em PDF, basta clicar no link ao lado: http://www.kas.de/wf/doc/kas_15054-544-5-30.pdf.
Valdemar Cabral Caracas *
estórias de uma história viva
ou a multiplicidade da vida.
Danço eu, dança você
Na dança da solidão”**
Não se sabe ao certo quando ela se instalou por ali, ditando o ritmo das coisas. O fato é que entrou sem ser vista e foi se acomodar bem ao lado da cadeira de balanço preferida dele. A voz suave dela canta uma ode cujos versos tecem lembranças de cem anos de história e embala os momentos revisitados em memória. Ah! A Desilusão. A impressão é que ela parece dar cadencia à vida de Valdemar Cabral Caracas.
Voltando um pouco na história deste ícone que foi ferroviário, esportista, cronista, comentarista, percebe-se que a desilusão só se instaurou mesmo na velhice. Mas o que se esperar da vida quando já se viveu cem anos? Não pedira para viver isso tudo. Cem anos! Talvez tenha tido um pouco de sorte. O pai, Francisco Caracas Sobrinho, por exemplo, morreu aos 36 anos. A irmã de quem mais gostava também morreu ainda jovem. Perdeu a mãe, Francisca Cabral Caracas, os filhos homens ainda bebês, os amigos queridos e por último a esposa Anete com quem viveu por sete décadas. Foram embora todos. Coisas da vida. Uma sucessão de perdas que permitiram aos poucos que a desilusão entrasse e tomasse conta da dança da solidão sugerida nos versos da música.
Mas a vida não é feita só de perdas. Valdemar também é homem de conquistas. As lágrimas teimam em não cair deixando os olhos marejados, indicando as lembranças que vão sendo rememoradas. São muitas. São muitos os anos vividos e poucos os que conseguem atingir essa idade com tanta lucidez. Às vezes, uma lembrança leva à outra, que leva à outra e outra até o assunto inicial se perder. A memória estanca de uma vez. “Onde é que eu estava mesmo?” E o assunto é retomado. “É história, eu tenho história”.
A família saiu de Pacoti, município cearense localizado a 100 quilômetros de Fortaleza, quando ele tinha apenas cinco anos de idade para vencer as misérias do interior cearense. Com a morte do pai e da irmã, teve de trabalhar cedo para sustentar a casa. Trabalhou em farmácias e no comércio, antes de entrar como datilógrafo da Rede Viação Cearense (RVC).
Foi na RVC que encontrou duas paixões: o futebol e a política. O espírito de liderança permitiu-lhe tornar-se o líder dos ferroviários, tanto na classe trabalhadora quanto no futebol. Explica-se. Valdemar foi uma forte influência junto aos trabalhadores da Viação Férrea. No futebol, a outra paixão, Valdemar deixou o campo de terra onde jogava bola na Praça da Lagoinha ainda menino para ocupar os gramados do campo de futebol com a fundação do Ferroviário Atlético Clube, em 1933. O time coral foi fundado a partir dos dois times em que atuavam os ferroviários da companhia. Valdemar dirigiu o “Ferrim”, chegando a conquistar o título de Campeão Cearense em 1945. Nunca quis presidir o Ferroviário. A explicação é que era ele quem mandava em tudo.
De fato, a vida foi generosa com Valdemar, concedendo-lhe uma rica história com muitos “causos” engraçados. Teve o prazer de conhecer personagens que muitos só conhecem dos livros de história. Viu de perto Lampião e o cangaço; tomou café com Floro Bartolomeu, que participou da Sedição de Juazeiro, e jantou com Padre Cícero, chegando a conversar com ele. Aliás, conversar não. “Padre Cícero não deixava ninguém conversar, ele falava sozinho”.
Mais tarde conheceu e travou valiosas amizades com a literatura cearense ao lado de Blanchard Girão e Eduardo Campos, já falecidos, e de Cid Caravalho, amigo de longas conversas ao sabor das delícias do “Raimundo dos Queijos”.
Uma vida agitada. Mas muitos se foram. Ficou a desilusão por ainda estar por estas bandas. Ficou sozinho. Besteira. Quando chegar a hora de ir, que ainda vai demorar muito, a festa lá em cima estará completa. Os amigos de perto e de longe o saudarão. E a desilusão será apenas impressões em versos de música.
*Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso. A Entrevista com Valdemar Caracas será prublicada na Revista Entrevista N°21, uma publicação do sétimo e sexto semestres do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.
* Trecho da música Dança da solidão, de Paulinho da Viola.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Status
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Cartas
Então,
Por aqui nada bem. Daqui do alto não é tão bonito quanto me disseram. Só vejo nuvens pesadas, densas, com cara de choro, prontas para desabarem num aguaceiro só. De mais a mais, só turbulências. Passa, mas logo volta. Começo a ficar enjoada. Demoro a enjoar, mas quando isso acontece... Ih!!!! Melhor sair de perto. Fico imaginando o dia em que vou ver o céu com poucas nuvens e aquele azul cujo espelho é o mar (Ah, mar...Ah, mar... Amar! )*. É, talvez fique só na imaginação. Quando eu recolocar os pés no chão e me aprumar direitinho, conto o resto das histórias. Não se preocupem. Vou me demorar um pouco, mas volto. Ando naqueles dias em que se uma gota, uma dessas da minha nuvem, cair no oceano pode instaurar o caos e a desordem. É isso. Não vai ter despedida, nem beijos, nem abraços.
______
* Do episódio de "Hoje é dia de Maria: segunda jornada".
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Três partes para um todo
A parte de mim que é amor perdeu-se na primeira vez em que ousou sair sozinha. Arrasada por ter errado o caminho, voltou para casa e dormiu para não mais acordar. Um dia vai despertar novamente e voltar a sair como se nada tivesse acontecido. Viverá a sorte de amor tranquilo.
Diferente da irmã, a parte de mim que é paixão é vida. Ninguém ama mais a vida do que a parte de mim que é paixão. É também a parte de mim mais ingênua. Faz o jogo do contente. Crê que sempre as pessoas podem ser melhores e que podem gostar da parte de mim que é amor, a irmã ausente.
A parte de mim que é paixão encasquetou de jogar paciência. Fica horas a fio jogando um jogo onde cada lance errado pode custar uma ferida ou uma mágoa. É um jogo perigoso. Um dia, alguém há de se ferir mortalmente. Quando isso acontecer, a partida termina, embora outra possa recomeçar. Só quando aparecer a mensagem game over é que tudo se finda ou tudo se desfaz e será cada um por si.
A parte de mim que é desejo é a mais diferente de todas. Adora a sensação de liberdade. Sair é aventurar-se, despertar para o mundo. É volúpia. Dada aos prazeres do mundo. Escolheu esse caminho. Contudo, apresenta defeitos como toda parte de mim que é mortal. Pouco se importa com o mundo a sua volta. Foi criada pela sociedade de consumo. É egoísta, não respeita o tempo dos outros, tudo tem que ser do seu jeito e a sua hora. Quer tudo, mas nada tem.
A parte de mim que é desejo adora implicar com a parte de mim que é paixão. Apesar disso, se dão muito bem. Opostos complementares. Quando a parte de mim que é paixão quer desistir do jogo de paciência, é a parte de mim que é desejo que a acalma e indica o caminho da melhor jogada. Talvez seja a parte de mim mais equilibrada e a mais forte de todas. Esconde em doçura a frieza com que enxerga a vida. Não chora. Guardar para si todas as lágrimas e ainda ajuda a enxugar as lágrimas de parte de mim que é amor e parte de mim que é paixão.
Três partes compõe-me o todo. Irmãs tão diferentes que optaram escolher caminhos diferentes. Agora, buscam reencontrar o equilíbrio do todo. Um eixo que as conduza. Três partes em um único todo.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Dificílimas
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"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior".
[Trecho de Copo Vazio, Chico Buarque]
sábado, 27 de setembro de 2008
Nalgum Lugar
Zeca já não é mais o mesmo desde de quando lançou Por Onde andará Stephen Fry?. Virou pop. Mas ainda desperta emoções, principalmente ao relembrar as canções antigas. Talvez ele saiba disso. Cantou cinco músicas do seu primeiro CD. Homenageou Waldick Soriano e Fausto Nilo.Cantou algumas músicas do Liricas, seu segundo CD. Mas ficou faltando uma que eu gosto. E hoje tornei a ouvi-la repetidamente. Levando minhas impressões para Nalgum Lugar. A composição não é dele. Mas ele musicou-a lindamente. A-do-ro.
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Nalgum Lugar (OUÇA AQUI)
Zeca Baleiro
Composição: E. E. Cummings
Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente alémDe qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa (2x)
Ou se quiseres me ver fechado, eu e
Minha vida nos fecharemos belamente, de repente
Assim como o coração desta flor imagina
A neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
Nada que eu possa perceber neste universo iguala
O poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
Compele-me com a cor de seus continentes,
Restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
E abre; só uma parte de mim compreende que a
Voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
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domingo, 21 de setembro de 2008
Trechos de uma carta inacabada IV
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Direcionadas 7
Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre"
[Trecho do poema Nalgum Lugar de E.E.Cumings, traduzido por Augusto Campo e musicado por Zeca Baleiro]
Libidinagem
Curva-se então aos arroubos preconizados do desejo, às marcas de uma liberdade que teima em se falsear e a satisfação íntima de um corpo que não se revela. Não se permite (Sussuros). Não se permite. Não se permite vivenciar o lado lascivo da vida e os desejos reais que podem se tornar mais reais ainda. Bobo.
domingo, 7 de setembro de 2008
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Direcionadas 6
sábado, 30 de agosto de 2008
Assim que puder
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"A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?"
[Trecho do poema III de Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé. De Ariana para Dionísio. Do livro Júbilo Memória Noviciado da Paixão. Musicado por Zeca Baleiro]
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Senhor soberano
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A sisudez se desfaz tão logo que me toma a mão. Acaricia-me e consola o meu choro contido. Sabe que ainda sinto saudades da Terra do Nunca. Não tenho mais o mesmo tempo que passou. Lá, pelo menos, conseguia driblá-lo e fugir, ainda que aquele horroroso crocodilo me atormentasse os ouvidos e fizesse lembrar-me da minha condição humana. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tempo. Terra do Nunca: nunca mais.
Nunca é um período muito longo. Longo demais para quem deseja viver. Era necessário. Precisava sair dali e ganhar o mundo. Não temos tempo a perder. Ah! Tempo. Sinto saudades de fato. Mas quem não sente? As brincadeiras, as conversas à toa, as peraltices de um momento que não volta nunca mais. Aprende-se cedo. O tempo não pára.
Tempo. É ele o senhor soberano da vida. É ele quem determina a hora certa para as coisas acontecerem. Estamos à mercê dele. Tutelados por ele. Pela vida inteira. E se o hoje não deu certo, é certo que haverá um amanhã. Falta um tanto ainda, eu sei. É só ter paciência e esperar
sábado, 23 de agosto de 2008
Trechos de uma carta inacaba III
sábado, 9 de agosto de 2008
Do tempo
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quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Trechos de uma carta inacabada II
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Trechos de uma carta inacabada
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Música da semana 4
Wave
Tom Jobim
Vou te contarOs olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...
O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...
Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...
Vou te contar...
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Posso ajudar?
sexta-feira, 4 de julho de 2008
O vôo dos Arigós
Mesmo os jornalistas mocorongos* ainda não conheciam tão bem o lugar em que moram. Vez por outra, dava pra ouvir o pensamento de um dizendo “muito prazer Tapajós”. O não-conhecer os lugares não é privilégio deles. A verdade é que pouco se conhece do próprio espaço.
E não é apenas a floresta que encanta. De um lado ao outro, um rio extenso de águas claras duela com outro rio de águas barrentas. Os guerreiros Tapajós e Amazonas passam dias e noite a duelar no espetáculo das águas. É uma batalha sem vencedores. Ou melhor, os vencedores são aqueles que param e fitam o olhar para admirar a beleza de tudo.
Talvez o espanto seja só coisa dos Arigós** que chegam a terras dominadas por tanta água e mato e começam a se assombrar com o tamanho de tudo. Falta de costume. De onde eles vêm os rios não passam de um filete de água que só escorre em época de chuva. Quando o inverno não é bom, o solo racha de tão seco que fica. Só um rio é capaz de permanecer cheio o tempo todo. Isso porque foi artificializado. Mas, comparado ao Tapajós, não passa de um filete de água canalizado. Isso porque de uma margem a outra, o Tapajós chega a ter 19 km de extensão.
É por isso que os Arigós arribaram pras bandas do Pará nas décadas passadas. Fugiam da seca e da miséria. Primeiro foram Foram em busca de água para beber e terra disponível para plantar. O problema é que a terra disponível, e a indisponível também, foi parar nas mãos de poucos (para variar). Os que querem mais terra para plantar soja vão abrindo clarões no meio da mata, destruindo grandes riquezas. E o desmatamento, é tão grande quanto à floresta. Vai assustando. É aí que se para pensar no futuro. Uau. Que futuro? Quando se volta de lá, Paroara***, a idéia de transformação se aguça. O futuro vira então uma inconstância e o presente é o dever da mudança.
*Mocorongos - Diz-se dos nascidos em Santarém.
** Arigós – Nome dado aos nordestinos que se instalaram no norte do País.
*** Paroara – Nome dado aos nordestinos que voltaram aos seus estados de origem.
_______________
Participei de toda a aventura. Foram quatro dias de palestras e aventuras pelo Rio Tapajós. Experiência inesquecível. Pena que não se faz mais jornalismo assim: de mochila nas costas e caneta na mão. Outros tempos...
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Para concordar
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." [Viver não dói, Carlos Drummond de Andrade]
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Alter do chão
O Rio Tapajós banha Alter do chão. É tempo de cheia. Tudo fica encoberto. Ê Brasil lindo. E a gente conhece tão pouco dele...
terça-feira, 17 de junho de 2008
Suspiro
Fico pensando como as pessoas vão se tornando distantes uma das outras. De repente, tudo é estranho. Não há amizade (E olha que ela era a mais desejada) . Não se cumprimentam. Não há troca de palavras. Não há carinho. Não há cumplicidade. Bloqueiam-se. Estranhos. Mudanças de um tempo ou tempos de um tempo?
Silêncio.
Suspiro.
A sensação de “eu perdi” vai aos poucos se transformando em vitória. A gente ganha maturidade. Descobre que não fez tanta maluquice assim. Descobre que os erros só são erros aos olhos do outro. Descobre que é possível gritar mais alto, mesmo que a garganta fique doída depois. Descobre que também tem orgulho suficiente para não falar nunca mais, se quiser.
Tristeza mesmo é saber que tudo se perdeu. Principalmente a amizade. Parece que as lembranças são sempre acompanhadas do imaginário do ruim. O bom é saber que a saudade é agora um sentimento diminuído. Dá até vontade de pedir para acelerar o tempo, só para que ela suma de uma vez.
domingo, 8 de junho de 2008
No Ar: Vozes de Gaia
Acessem o Vozes de Gaia!!!
sábado, 7 de junho de 2008
Direcionadas 5
_______
"Trago em meu corpo
A dor do amor
Transformada em beleza
Como a pérola é
Na forma e na cor
O sofrimento da ostra"
domingo, 25 de maio de 2008
Música da semana 3
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Descansa Coração
Cansei de tanto procurarCansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder
Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão
Não sei pra onde vou
Não sei Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz
sábado, 24 de maio de 2008
Passarinho não canta mais
Ausência
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Criação de um mundo próprio
Redoma de vidro impenetrável
Forma de se auto-asfixiar
Estado latente de egoísmo
Silenciado pelo próprio grito
Ensimesmar-se
Não existência
Ser invisível
Ou ainda
Medo de ser presente
Do presente
segunda-feira, 19 de maio de 2008
O não-lugar no balanço
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Se não era você quem empurrava o balanço,
Se não era você quem me fazia voar alto,
Se não era você quem me dava o impulso necessário,
Se não era você quem me fazia sentir o vento no rosto,
Se não era você quem me fazia o coração saltar pelo boca,
Ou sentir um friozinho na barriga,
Se não era você...
Onde esteve esse tempo todo?
Não percebe que alguém tomou o seu lugar?
Não há volta.
Ou tem?
Já vou longe...
Vôo alto...
E alto.
Alto.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Direcionadas 4
_______
OPEN YOUR EYES!!!!
Isso faz sentido... Mudar. Mudar tudo. Revolucionar. Aventurar-se. Qual o caminho certo?
quinta-feira, 1 de maio de 2008
terça-feira, 29 de abril de 2008
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Desconexo navegar de palavras
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sábado, 19 de abril de 2008
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Direcionadas 3
terça-feira, 15 de abril de 2008
Mundo múltiplo
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A vista ainda falhava, ficava meio turva. Mas não se desesperava mais. Tão logo lembrava da dor e do sofrimento, ficava ali quietinha... Esperando tudo passar. Porque um dia tudo passaria. Talvez nem se lembrasse do que acontecera ou do que deixara de acontecer. Ou pior: lembraria, mas fingiria esquecer. Torceria o nariz e diria "Ah! Mas isso nunca aconteceu comigo! Lembro que aconteceu com a amiga da cunhada da prima da vizinha. Comigo nunca." E o nunca ressoaria a sua aparente indiferença. Tão fingida! Ganharia um prêmio de melhor atriz. Conhecia seus comportamentos. Seria assim mesmo: indiferente. Afinal, a indiferença é a melhor maneira de massacrar os inimigos. Só não sabia ainda quem os eram.
sábado, 12 de abril de 2008
LA QUE CAMINA
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Gabriela Mistral (Vicuña, 7 de abril de 1889 - Nova Iorque, 10 de janeiro)
Aquel mismo arenal, ella camina
siempre hasta cuando ya duermen los otros;
y aunque para dormir caiga por tierra
ese mismo arenal sueña y camina.
La misma ruta, la que lleva al Este
es la que toma aunque la llama el Norte,
y aunque la luz del sol le da diez rutas
y se las sabe, camina la Única.
Al pie del mismo espino se detiene
y con el ademán mismo lo toma
y lo sujeta porque es su destino.
La misma arruga de la tierra ardiente
la conduce, la abrasa y la obedece
y cuando cae de soles rendida
la vuelve a alzar para seguir con ella.
Sea que ella la viva o que la muera
en el ciego arenal que todo pierde,
de cuanto tuvo dado por la suerte
esa sola palabra ha recogido
y de ella vive y de la misma muere.
Igual palabra, igual, es la que dice
y es todo lo que tuvo y lo que lleva
y por su sola sílaba de fuego
ella puede vivir hasta que quiera.
Otras palabras aprender no quiso
y la que lleva es su propio sustento
a más sola que va más la repite
pero no se la entienden sus caminos.
¿Cómo, si es tan pequeña la alimenta?
¿Y cómo si es tan breve la sostiene
y cómo si es la misma no la rinde
y a dónde va con ella hasta la muerte?
No le den soledad por que la mude,
ni palabra le den, que no responde.
Ninguna más le dieron, en naciendo,
y como es su gemela no la deja.
¿Por qué la madre no le dio sino ésta?
¿Y por qué cuando queda silenciosa
muda no está, que sigue balbuceándola?
Se va quedando sola como un árbol
o como arroyo de nadie sabido
así marchando entre un fin y un comienzo
y como sin edad o como en sueño.
Aquellos que la amaron no la encuentran,
el que la vio la cuenta por fábula
y su lengua olvidó todos los nombres
y sólo en su oración dice el del Único.
Yo que la cuento ignoro su camino
y su semblante de soles quemado,
no sé si la sombrean pino o cedro
ni en qué lengua ella mienta a los extraños.
Tanto quiso olvidar que le ha olvidado.
Tanto quiso mudar que ya no es ella,
tantos bosques y ríos se ha cruzado
que al mar la llevan ya para perderla,
y cuando me la pienso, yo la tengo,
y le voy sin descanso recitando
la letanía de todos los nombres
que me aprendí, como ella vagabunda;
pero el Ángel oscuro nunca, nunca,
quiso que yo la cruce en los senderos.
Y tanto se la ignoran los caminos
que suelo comprender, con largo llanto,
que ya duerme del sueño fabuloso,
mar sin traición y monte sin repecho,
ni dicha ni dolor, nomás olvido.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Documentário da Rosalina é selecionado para o 18° Cine Ceará
O curta-metragem será exibido durante a Mostra Ceará, no próximo dia 14 de abril. As sessões ocorrem na Sala 2 do Espaço Unibanco, em duas sessões: às 14hs e às 16hs. A comunidade da Rosalina irá ao evento prestigiar o documentário. Um ônibus irá levar os moradores até o local de exibição do curta
Rosalina: uma comunidade em construção mostra os desafios e perspectivas da comunidade da Rosalina, localizada no Parque Dois irmãos, que adotou a agenda 21 como instrumento para a construção de uma forma sustentável de vida. Retrata ainda sonhos que aos poucos se tornam realidade. O conjunto habitacional que aos poucos vai ganhando forma e alimentando a esperança de uma moradia digna; a cooperativa da comunidade – Rosacoop- que já é um sonho realizado e o restaurante popular são alguns exemplos.
Para reconstruir a história das lutas e sonhos da Rosalina, Sophie Guérin, cineasta canadense, passou três meses na localidade, acompanhando de perto as reuniões de rua, as atividades culturais e os seminários (um deles contou com a presença do teólogo Leonardo Boff).
A canadense acredita que a política ambiental é uma boa via para sensibilizar a população. Além disso, Sophie aposta também no cinema social. “Eu gosto muito de fazer cinema social, dessa educação popular. Um documentário é uma boa maneira de fazer sensibilização”, destaca a cineasta.
A comunidade da Rosalina nasceu em 1996, quando mil e quinhentas famílias ocuparam um terreno e passaram a construir suas moradias. Para adquirir uma cópia do documentário, basta entrar em contato com a Associação Alternativa Terrazul pelo telefone 3281-0246 ou através do e-mail: alternativa.terrazul@terra.com.br.
Mais informações na Associação Alternativa Terrazul pelo telefone 3281-0246
sábado, 29 de março de 2008
Direcionadas 2
terça-feira, 25 de março de 2008
Da previsão
Está desenhado
E nunca ficam
Tal qual um álbum de família
segunda-feira, 24 de março de 2008
Parêntese esotérico
Enfim, mais do que no signo me viciei no Tarot O meu Tarot para os próximos seis meses então!Ó! Combinou direitinho. O rei está no centro da minha vida nos próximos seis meses. Ah! E o meu apego a o esoterismo está na minha combinação de sagitário + touro, que segundo o Personare resulta em uma pessoa muito interessada nos mistérios profundos da vida.
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Do meu mapa astral:
"Sente um grande prazer em estar vivo. As boas coisas da vida lhe atraem, e você tem uma sensualidade natural que não hesita em usar quando lhe convém..."
"O grande problema da combinação Sagitário + Touro é que você pode flutuar de interesses muito rapidamente, e manifestar um conflito entre seu profundo desejo de liberdade, do estilo "não gosto de ninguém que me controle" e seu outro lado taurino, mais controlador e que deseja uma relação estável, ou trabalhos mais sólidos..."
By Personare. Como diria um amigo meu: "Iiiieee. Isso é do diabo."
Música da semana 2
Amo essa música. =)
Boi de Haxixe
Meu bem eu cheguei agora
mais eu te peço
tu não vá chorar
Por favor, me dê a sua mão
Entra no meu cordão
Venha participar
Quando piso em flores
Flores de todas as cores
Vermelho sangue,verde-oliva,azul colonial
Me dá vontade de voar sobre o planeta
Sem ter medo da careta
Na cara do temporal
Desembainho a minha espada cintilante
Cravejada de brilhantes
Peixe-espada vou pro mar
O amor me veste com o terno da beleza
E o saloon da natureza
Abre as portas preu dançar
Diz o que tu quer que eu dou
Se tu quer que eu vá eu vou
Meu bem meu bem-me-quer
Te dou meu pé meu não
Um céu cheio de estrelas
Feitas com caneta bic num papel de pão
Meu bem eu cheguei agora
Mais eu te peço tu não vá chorar
Por favor, me dê a sua mão
Entra no meu cordão
Venha Participar
domingo, 23 de março de 2008
O vento e a janela
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Foi um pé-de-vento com tendências a furacão que abriu a janela de uma vez, escancarando-a. Havia passado por aquelas bandas fazendo uma grande algazarra. Desfez a trança da menina, levantou a saia da moça e cochichou no ouvido de um alguém o... Impublicável. Foi também o danado desse vento que transformou a brasa em fogo, reaquecendo o esquecido. E que janela era aquela que o vento abrira, meu Deus? Jamais havia sido aberta.
Uma luz incandescente agora tomava conta do lugar. Seus olhos ainda não estavam acostumados aquilo. Não que o sol não entrasse no ambiente, mas a fresta era tão minúscula... Não se via nada lá fora. Agora a janela estava aberta. O que fazer? A primeira idéia era isso. Lançar-se para o mundo. Isso mesmo. Precisava conhecê-lo antes do “agora é tarde”. Mas por onde começar? Pensou, pensou, pensou. Ah! Uma idéia. Como não pensara nisso antes. É claro. Acompanhar o vento. E para onde ele ia?
Bradou com todas as forças um “para onde vai, senhor vento?”. Mas nada se ouvia. Teria ido embora? Minutos depois, ouviu-se um sussurrado “vou voltar para o norte”. Na certa ele já devia estar longe, abrindo outras janelas. Ué, mas que norte era aquele? Era algum norte desnorteador? Ou seria o norte que queria para sua vida? Só saberia disso tudo se fosse. E sem mais nem menos seguiu aquela direção. Foi-se. A janela estava aberta mesmo...
quarta-feira, 19 de março de 2008
Direcionadas
Da travessia
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Lança-me pelo céu azulado
Faça-me voar pelo campo de girassóis
Sobrevoar o tudo
Voar pelo nada
Fechar os olhos
E sentir o vento
E o adocicado aroma do mundo
E a dança nunca concedida
Ouvir a música nunca composta
Cantar a canção jamais musicada
Dormir acordada e sonhar
Gritar a palavra calada
Conceda-me uma travessia
Mas me faça pousar ali
Bem ali
Perto do distante de ti
Mafaldianas 1
Às vezes é bom fazer isso. Mas só às vezes. Senão acabamos cegos por convicção...
domingo, 16 de março de 2008
Lembranças
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Dramática. Sua vida nem era lá essas coisas. Daria no máximo uma minissérie em cinco capítulos. Um capítulo para cada cinco anos. O primeiro capítulo seria então uma chatice. Teria tão pouca coisa a contar. De lembrança mesmo só aquela vez em que se perdeu no parquinho. Ainda lembrava. Soltou a mão da irmã mais velha e correu atrás de uma linda borboleta lilás. Uau! A borboleta lilás. Como era linda. Enquanto a borboleta voava para longe, ela a acompanhava. Talvez quisesse voar para longe também...
Foi então que se viu sozinha no meio da multidão. Não que agora fosse diferente, mas naquela época tinha apenas quatro anos de idade. Não viu ninguém. Tivera medo. Resolveu sentar ali, até que alguém aparecesse. A borboleta lilás fazia-lhe companhia. Ficara parada estrategicamente em seus cabelos, acarinhando-a. Era como se sentisse culpada por aquilo.
Já era quase noite quando a irmã apareceu e a encontrou. Sua expressão era um misto de fúria e alegria. Talvez mais de alegria do que de fúria. Ora, o que diria a mãe se soubesse que a caçulinha dela tinha se perdido? Não voltara para casa? Na certa, a irmã mais velha seria acusada por um crime gravíssimo, segundo as leis maternas. Imaginava até a cena. A mãe dizendo “É isso que dá, vai namorar e perde a irmã. Uma criança tão boa” e depois o choro e o lamento. É claro que isso não aconteceu. A irmã mais velha não fora castigada. Na verdade, fizera-lhe jurar que jamais contaria aquela história a mãe, comprando-a com chocolates e outras guloseimas.
A lembrança não estava registrada ali na agenda. Ufa! Enfim a encontrara. Exatamente onde a deixara há meses. Tanto tempo sem abri-la e ela havia ganhado um cheirinho de madeira úmida misturado ao cheiro do papel velho. Estava bem ali. Guardada embaixo da velha canga com a estampa do Che. Tão velha quanto à agenda, também tinha marcas de boas lembranças. O furo bem na estrela da boina do Che, por exemplo, era a lembrança da primeira vez em que fumara. O cigarro caiu de sua mão e o pano acabou ganhando um discreto furo. Só ela via e entendia o porquê. Mas como não vira a agenda? Desatenção? Não. Talvez uma doce ansiedade para escrever os minutos anteriores da mais recente aventura amorosa.
Aventura. Também usara essa palavra para caracterizar o caso com aquele professor de teatro. Seria apenas uma aventura mesmo? Não sabia ao certo. É claro que com o professor de teatro fora mesmo uma aventura. Excursionou um mês pelo Chile, pesquisando junto a ele o empoderamento dos movimentos artísticos de rua sob uma perspectiva weberiana.
Nem diabo sabia quem era Weber. Mas ela foi. Tinha a esperança de chegarem juntos à Patagônia chilena, um lugar que ela adoraria conhecer. Sempre respondia isso quando lhe perguntavam sobre o lugar que lhe tocava o coração. Tinha a resposta na ponta da língua: “Patagônia chilena”. Sim, ouvira de um velho chileno allendista que aquele era o lugar mais bonito da terra. Jurou que um dia estaria lá.
Mas não esteve. A briga pós-momento bacanal encerrou a excursão. Passara o dia inteiro bebendo um autêntico vinho da famosa Concha y Toro. Um legítimo Cabernet Sauvignon. O vinho subiu-lhe a cabeça. Mandou o empoderamento e o tal do Weber às favas. Pegou o primeiro avião. Foi-se embora. Não ficara triste em terminar com o professor de teatro. Sentia muito por não ter chegado à Patagônia chilena. Quando estaria ali novamente? Agora com o aquecimento global, era capaz de as geleiras derreterem. Ela perderia toda a beleza da vida.
A aventura chilena passou-lhe pela cabeça em um fôlego só. É. Talvez a minissérie da sua vida ganhasse um capítulo a mais. Mas como classificar o que sentia? Fazia tanto tempo que não sentia aquilo. Desde que descobrira a traição, talvez. Coisa para esquecer e deixar registrado só mesmo na sua psicóloga portátil.
Era por isso que abria a agenda novamente. Para tentar se desvendar. Desvendar tudo aquilo. A única coisa que sabia, era que ele estava fazendo um bem danado a ela. Talvez fosse cedo para indicar alguma coisa. Ele ainda era um mistério. Deixava as coisas subtendidas. Era necessário fazer uma análise de cada discurso de tudo que era proferido. Ela se embaraçava com aquilo. Odiava análise do discurso. Trancou a disciplina bem no meio do semestre e nunca mais destrancou. O fato era que ele não se revelava. Não por inteiro. Mas ela gostava da parte que havia descoberto. Era o tipo que valia fazer a pena cada instante ao lado dele.
Ah! Alguém precisava ver o sorriso encantador daquele homem. O sorriso também não se revelava. Era algo meio disfarçado. Estilo Monalisa. Meio safadinho. Como se dissesse “Quero você agora”. Mas que ao mesmo tempo dizia “Vá com calma. Eu posso me assustar e nunca mais aparecer”. E ela ficava sem entender nadinha. Ria também. Como se aquilo tudo fizesse parte da sedução. Um dia traria uma foto dele sorrindo. Colaria na agenda.
Tentava se controlar mais. Tinha uma natureza intensa e apaixonada. Ele jamais a entenderia. Do contrário, sumiria sim. Por um momento, teve medo dessa idéia. Anotou as angustias na agenda. E se ela fizesse alguma coisa que o desagradasse? Se ele sumisse da sua vida de vez? O medo era realmente sintomático: estava apaixonada. Mudar os atos e atitudes? Ela enfim teria de ceder aos caprichos de alguém? Isso seriam cenas para os capítulos seguintes. E estariam tudo ali. Devidamente registrado na agenda que voltara outra vez para o fundo da gaveta.