sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Senhor soberano


É ele quem me bate a porta todas as manhãs e me desperta bruscamente com a voz grave dos sábios. Acordo atônito sob o olhar de quem sempre me espera uma maior rapidez no despertar. És um senhor tão bonito... Lembra-me o quanto é tarde e, olhando-me altivo, me diz uma palavra qualquer de desdenho.

A sisudez se desfaz tão logo que me toma a mão. Acaricia-me e consola o meu choro contido. Sabe que ainda sinto saudades da Terra do Nunca. Não tenho mais o mesmo tempo que passou. Lá, pelo menos, conseguia driblá-lo e fugir, ainda que aquele horroroso crocodilo me atormentasse os ouvidos e fizesse lembrar-me da minha condição humana. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tempo. Terra do Nunca: nunca mais.

Nunca é um período muito longo. Longo demais para quem deseja viver. Era necessário. Precisava sair dali e ganhar o mundo. Não temos tempo a perder. Ah! Tempo. Sinto saudades de fato. Mas quem não sente? As brincadeiras, as conversas à toa, as peraltices de um momento que não volta nunca mais. Aprende-se cedo. O tempo não pára.

Tempo. É ele o senhor soberano da vida. É ele quem determina a hora certa para as coisas acontecerem. Estamos à mercê dele. Tutelados por ele. Pela vida inteira. E se o hoje não deu certo, é certo que haverá um amanhã. Falta um tanto ainda, eu sei. É só ter paciência e esperar

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