sábado, 17 de março de 2007


Margaridas Urbanas- Parte 2

Margaridas Urbanas

Um encontro com a história

A chuva não atrapalhou a comemoração do Dia Internacional da Mulher para as catadoras de materiais recicláveis da Ascajan – Associação dos catadores e catadoras do Jangurussu (antiga Cooselc). Cerca de vinte catadoras puderam conhecer um pouco da história do Ceará, através de um passeio pelos pontos turísticos de Fortaleza, promovido pela Emlurb, Fundação Banco do Brasil e a Pastoral do Povo de Rua, parceiros da associação no Projeto de Coleta Seletiva Jangurussu-Reciclando Vidas.

Antes de visitar lugares que só conheciam através dos passeios com as “carrocinhas”, isso quando não estavam “catando” nos lixões, as margaridas urbanas marcharam para o saber. As catadoras tiveram a oportunidade de conhecer o Centro de Referência Francisca Clotilde que auxilia as mulheres no enfrentamento à violência. Em uma palestra de quase quarenta minutos, as mulheres da Ascajan aprenderam um pouco mais sobre a Lei Maria da Penha e de como o centro funciona.

Depois de aprenderem como combater uma realidade que muitas enfrentam dentro de casa, as catadoras partiram para a visita aos pontos turísticos de Fortaleza. A primeira parada foi no Museu do Ceará onde muitas se encantaram com o famoso Bode Ioiô. Posteriormente, o grupo conheceu o lugar na qual Bárbara de Alencar ficou presa. O dia terminou com um grande almoço às margens da Lagoa da Parangaba.


domingo, 11 de março de 2007

O amor e suas formas


"O coração tem mais quartos que uma pensão de putas!"
Florentino Ariza em O Amor nos Tempos do Cólera

Q
uando as obras literárias são boas, logo ganham vários fãs, são reeditadas inúmeras vezes, viram grandes adaptações cinematográficas (nem sempre tão boa quanto à obra original), são premiadas e tornam-se obras atemporais, admiradas e reverenciadas por várias gerações. Este parece ser o caminho que vem sendo trilhado pela obra “O amor nos tempos do cólera” (El amor em los tiempos del cólera), do autor colombiano Gabriel García Marquez.

Publicada em 1985, a obra de Gabo ganhará uma adaptação cinematográfica que deverá estrear agora em 2007. É uma grande homenagem a um dos melhores escritores do mundo e que foi agraciado há 25 anos com o Prêmio Nobel de Literatura.

Em “O amor nos tempos do cólera”, Gabo narra a estória de amor mais bonita do século XX: a paixão de Florentino Ariza por Fermina Daza. Durante a adolescência, os protagonistas chegam a trocar apaixonadas correspondências, até mesmo quando o pai de Fermina a envia ao interior, na esperança de que a distância pudesse impedir o amor entre eles.

Apesar dos esforços do pai, é Fermina quem resolve a situação. Ao encontrar-se pessoalmente com Florentino, as palavras encantadoras de outrora, presente nas cartas de amor, são substituídas pela valorização da beleza física. Florentino logo é tachado de feio e excêntrico. Surge, então, a figura bonita e jovial de Juvenal Urbino que se tornaria marido de Fermina, até o reencontro desta com Florentino, 50 anos depois.

Mas a estória não é tão simples quanto parece. Apesar de deixar um pouco de lado o realismo fantástico tão marcante em Cem Anos de Solidão, Gabo cria uma narrativa densa, mas ao mesmo tempo simples, para falar das várias formas de amar e da possibilidade de exercer, ao mesmo tempo, as formas do amor. A narrativa é enriquecida por inúmeras estórias agregadas ao enredo principal e por construções lingüísticas encantadoras. Os protagonistas vão ganhando uma complexidade maior à medida que envelhecem e é preciso despir-se de preconceitos para compreende-lhes as necessidades, as manias e as esquisitices.

Florentino Ariza é sem dúvida a personagem melhor construído por Gabo. Ele é a própria personificação do amor e se encarrega de nos apresentar com grande profundidade e sem pressa as nuances desse nobre sentimento. Do amor verdadeiro ao amor por prazer, parece não haver restrições para Florentino, o importante é amar, ainda que demore mais de 50 anos para ser verdadeiramente amado. Já Fermina Daza apresenta-se como uma mulher a frente de seu tempo, mas que vai ganhando certa passividade ao longo da estória à medida que vai se firmando como matriarca dos Urbinos. Talvez, uma crítica do autor ao casamento.

O título do livro também é interessante. Ao relacionar amor e cólera, o autor qualifica o sentimento como uma doença, capaz de deixar seqüelas ou mesmo fazer morrer uma vida inteira. Também aproxima esse sentimento a outro bem antagônico: a raiva ou o ódio. É esse antagonismo que marca, por exemplo, o relacionamento de Urbino e Fermina.

Nesses tempos onde a dúvida acerca dos valores amorosos predomina, O amor nos tempos do cólera é uma ótima leitura para quem busca descobrir a verdade sobre a vida, conhecer a essência do amor, e a aceitar o amor seja qual for a sua forma.

Serviço: O Amor nos tempos do cólera, Gabriel García Marquéz. Editora Record,1985, 439 páginas.

Isabelle Azevedo

quarta-feira, 7 de março de 2007

O bicho homem

O ser humano é, talvez, a pior das espécies de bicho. Destrói o ambiente em que vive, destrói a si mesmo e aos outros.Diferente dos outros animais, é capaz de matar sem ser por instinto. Mata sem culpa. E ainda livra-se da vítima em uma lixeira qualquer.

Hoje, uma criança de seis meses foi encontrada morta no antigo lixão do Jangurussu. Foi achada por catadores das esteiras. Estava com o corpo estraçalhado. Tinha apenas seis meses de idade. Em tão pouco tempo conheceu a brutalidades da espécie humana.