quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Imagens do Sertão - Fotos tiradas em Quixadá-Ce






Feliz 2009!!!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Feliz Natal

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pintura sem guache nem tinta fresca

O encantor de Borboletas atrai os enamorados. Coisas de quem não tem o que fazer no Photoshop.
(Mentira. Fiz no primeiro semestre como trabalho final de uma disciplina da faculdade onde a gente aprende a usar o photoshop)

22

Sexta-feira, dia 19 de de dezembro, faço 22 anos. Aviso logo: não haverá festas. Ando chata, enjoada, mal-humorada, sem clima para festa. Talvez seja a idade chegando. Talvez... Nem tem o que comemorar... Vou beber no máximo uma cerveja.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Dina Maria Martins*

O tornar-se mulher na história
de uma sertaneja que desafiou
a estrutura patriarcal secular


Isabelle Azevedo Ferreira



A água do café demora a ferver. Parece uma eternidade. Do lado de fora da cozinha, o sertão já está fervendo. A Fazenda Barra do Cancão, situada a 33 km de Canindé, município localizado no Sertão Central do Ceará, há muito iniciou a jornada de trabalho. Os animais já partiram para o pasto. Vez por outra, é possível ouvir o trotar dos cavalos, e os vaqueiros tangerem os animais. A menina escuta tudo atentamente. Tem vontade de largar o mundo hostil que lhe é a cozinha para se incorporar ao mundo das vivências sertanejas. De fato, Dina Maria Martins não ficou só na vontade. Largou a hostilidade dos afazeres domésticos para ir se incorporar ao âmago do sertão.

Foi rompendo estruturas predominantemente masculinas que a menina astuciosa, por vezes malcriada, tornou-se vaqueira e aboiadora. Tornou-se mulher. Afinal, como afirmou Simone de Beauvoir em O segundo sexo (1949), “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Os indivíduos vão constituindo as identidades a partir da repetição dos códigos sociais matriciais. Dina, nascida cinco anos depois dos escritos, em 1954, desmistificou a lógica tão veementemente criticada pela escritora francesa.

A primeira barreira a enfrentar foi os homens da casa. Os sete irmãos opunham-se a ter uma irmã fazendo serviços de homem. Foi na figura paterna que a sertaneja encontrou o refúgio e o incentivo. O pai, José Martins da Silva, deu-lhe o inseparável companheiro de peripécias, o cavalo Estrelinha cujos banhos de juá renovava-lhe o pêlo. Martins ajudou ainda a alcunhar Dina como a “Mulher Vaqueira”.

Aos quatorze anos, o pai a incumbiu de ajudar a capturar a rês do vizinho. Não pensou duas vezes. Largou o café que tinha para fazer e foi lançar-se rumo ao destino. Os olhos dela se avivam ao lembrar o episódio que a fez entrar definitivamente para o mundo da vaquejada. Um mundo que lhe reservaria ainda as surpresas do amor.

Numa das Missas do Vaqueiro, a morena de tez bronzeada pelo sol sertanejo surpreendeu pelas doçuras do amor. Encantou-se pelo vaqueiro Fernando cujos olhos azuis desassossegaram-lhe o coração. Encontrara o companheirismo de um homem que teve a sensibilidade de entender e compartilhar com ela a paixão pela vaquejada. Tanto encanto rendeu ao casal três filhos: Júlio, Iris e Ângela.

Dezessete anos depois de casados, Fernando deixou ser seduzido pela face serena da moça Caetana, a morte para os sertanejos. O que Deus uniu só ele separa. Fernando foi então descansar no divino. Libertou-se da tristeza que lhe acometera depois de ter sido enganado por um mau negócio feito pelo melhor amigo.

Dina teve que firmar ainda mais a força que lhe é própria. Durante a missa em homenagem ao marido, aprumou a voz para aboiar a história de Fernando. A cantoria melódica que outrora desafiara Luiz Gonzaga em uma das Missas do Vaqueiro entoou toda a dor e agonia pela perda do marido.

Dina é a face do sertão que poucos conhecem. É a face que os autores propalaram nos romances, num possível exercício de futurologia. Dina é a Diadorim, personagem de Guimarães Rosas, “desmontada”. Não precisa vestir-se como homem, ainda que use vestes de vaqueiro. É na riqueza dos detalhes femininos que acontece o “desmonte”. Brincos, anéis, batons, maquiagem, tudo isso mostra uma mulher vaidosa e feminina.

Demonstra um sertão que se envaidece de sua grandeza e de sua força. Um sertão repleto de Dinas que ainda se escondem na hostilidade do lar. Demorou, mas hoje o sertão reconhece Dina, consagrando-a como uma grande Mestra da Cultura, valorizando a arte de aboiar e a figura do vaqueiro.

*Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso. A Entrevista com Dona Dina será prublicada na Revista Entrevista N°21, uma publicação do sétimo e sexto semestres do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Matéria na Envolverde

Minha reportagem sobre a Amazônia foi publicada no site da Envolverde =D

Para ler, basta clicar no link abaixo:

Nem tudo que reluz é ouro. Pode ser soja

A Reportagem foi publicada originalmente na revista Meio Ambiente e Mudanças Climáticas na Amazônia, que reúne matérias de participantes do Laboratório Ambiental de Jornalismo promovido pela Fundação Konrad Adenauer, realizado no mês de junho, em Santarém (PA). Para baixar a revista em PDF, basta clicar no link ao lado: http://www.kas.de/wf/doc/kas_15054-544-5-30.pdf.

Valdemar Cabral Caracas *

Desilusões, perdas e alegrias:
estórias de uma história viva
ou a multiplicidade da vida.

Isabelle Azevedo


“Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão”**

Não se sabe ao certo quando ela se instalou por ali, ditando o ritmo das coisas. O fato é que entrou sem ser vista e foi se acomodar bem ao lado da cadeira de balanço preferida dele. A voz suave dela canta uma ode cujos versos tecem lembranças de cem anos de história e embala os momentos revisitados em memória. Ah! A Desilusão. A impressão é que ela parece dar cadencia à vida de Valdemar Cabral Caracas.

Voltando um pouco na história deste ícone que foi ferroviário, esportista, cronista, comentarista, percebe-se que a desilusão só se instaurou mesmo na velhice. Mas o que se esperar da vida quando já se viveu cem anos? Não pedira para viver isso tudo. Cem anos! Talvez tenha tido um pouco de sorte. O pai, Francisco Caracas Sobrinho, por exemplo, morreu aos 36 anos. A irmã de quem mais gostava também morreu ainda jovem. Perdeu a mãe, Francisca Cabral Caracas, os filhos homens ainda bebês, os amigos queridos e por último a esposa Anete com quem viveu por sete décadas. Foram embora todos. Coisas da vida. Uma sucessão de perdas que permitiram aos poucos que a desilusão entrasse e tomasse conta da dança da solidão sugerida nos versos da música.

Mas a vida não é feita só de perdas. Valdemar também é homem de conquistas. As lágrimas teimam em não cair deixando os olhos marejados, indicando as lembranças que vão sendo rememoradas. São muitas. São muitos os anos vividos e poucos os que conseguem atingir essa idade com tanta lucidez. Às vezes, uma lembrança leva à outra, que leva à outra e outra até o assunto inicial se perder. A memória estanca de uma vez. “Onde é que eu estava mesmo?” E o assunto é retomado. “É história, eu tenho história”.

A família saiu de Pacoti, município cearense localizado a 100 quilômetros de Fortaleza, quando ele tinha apenas cinco anos de idade para vencer as misérias do interior cearense. Com a morte do pai e da irmã, teve de trabalhar cedo para sustentar a casa. Trabalhou em farmácias e no comércio, antes de entrar como datilógrafo da Rede Viação Cearense (RVC).

Foi na RVC que encontrou duas paixões: o futebol e a política. O espírito de liderança permitiu-lhe tornar-se o líder dos ferroviários, tanto na classe trabalhadora quanto no futebol. Explica-se. Valdemar foi uma forte influência junto aos trabalhadores da Viação Férrea. No futebol, a outra paixão, Valdemar deixou o campo de terra onde jogava bola na Praça da Lagoinha ainda menino para ocupar os gramados do campo de futebol com a fundação do Ferroviário Atlético Clube, em 1933. O time coral foi fundado a partir dos dois times em que atuavam os ferroviários da companhia. Valdemar dirigiu o “Ferrim”, chegando a conquistar o título de Campeão Cearense em 1945. Nunca quis presidir o Ferroviário. A explicação é que era ele quem mandava em tudo.

De fato, a vida foi generosa com Valdemar, concedendo-lhe uma rica história com muitos “causos” engraçados. Teve o prazer de conhecer personagens que muitos só conhecem dos livros de história. Viu de perto Lampião e o cangaço; tomou café com Floro Bartolomeu, que participou da Sedição de Juazeiro, e jantou com Padre Cícero, chegando a conversar com ele. Aliás, conversar não. “Padre Cícero não deixava ninguém conversar, ele falava sozinho”.

Mais tarde conheceu e travou valiosas amizades com a literatura cearense ao lado de Blanchard Girão e Eduardo Campos, já falecidos, e de Cid Caravalho, amigo de longas conversas ao sabor das delícias do “Raimundo dos Queijos”.

Uma vida agitada. Mas muitos se foram. Ficou a desilusão por ainda estar por estas bandas. Ficou sozinho. Besteira. Quando chegar a hora de ir, que ainda vai demorar muito, a festa lá em cima estará completa. Os amigos de perto e de longe o saudarão. E a desilusão será apenas impressões em versos de música.

*Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso. A Entrevista com Valdemar Caracas será prublicada na Revista Entrevista N°21, uma publicação do sétimo e sexto semestres do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.

* Trecho da música Dança da solidão, de Paulinho da Viola.