sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Cartas

Do alto de uma nuvem qualquer, 24 de outubro de 2008.

Então,

Por aqui nada bem. Daqui do alto não é tão bonito quanto me disseram. Só vejo nuvens pesadas, densas, com cara de choro, prontas para desabarem num aguaceiro só. De mais a mais, só turbulências. Passa, mas logo volta. Começo a ficar enjoada. Demoro a enjoar, mas quando isso acontece... Ih!!!! Melhor sair de perto. Fico imaginando o dia em que vou ver o céu com poucas nuvens e aquele azul cujo espelho é o mar (Ah, mar...Ah, mar... Amar! )*. É, talvez fique só na imaginação. Quando eu recolocar os pés no chão e me aprumar direitinho, conto o resto das histórias. Não se preocupem. Vou me demorar um pouco, mas volto. Ando
naqueles dias em que se uma gota, uma dessas da minha nuvem, cair no oceano pode instaurar o caos e a desordem. É isso. Não vai ter despedida, nem beijos, nem abraços.



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* Do episódio de "Hoje é dia de Maria: segunda jornada".



quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Três partes para um todo

Três partes compõem-me o todo: a parte de mim que é amor, a parte de mim que é paixão e a parte de mim que é desejo. Irmãs. Viveram juntas até bem pouco tempo. Mas um dia acharam que cada uma deveria seguir um caminho, sem se perderem de vista. Rompiam assim o equilíbrio instaurado. Partiram.

A parte de mim que é amor perdeu-se na primeira vez em que ousou sair sozinha. Arrasada por ter errado o caminho, voltou para casa e dormiu para não mais acordar. Um dia vai despertar novamente e voltar a sair como se nada tivesse acontecido. Viverá a sorte de amor tranquilo.

Diferente da irmã, a parte de mim que é paixão é vida. Ninguém ama mais a vida do que a parte de mim que é paixão. É também a parte de mim mais ingênua. Faz o jogo do contente. Crê que sempre as pessoas podem ser melhores e que podem gostar da parte de mim que é amor, a irmã ausente.
A parte de mim que é paixão encasquetou de jogar paciência. Fica horas a fio jogando um jogo onde cada lance errado pode custar uma ferida ou uma mágoa. É um jogo perigoso. Um dia, alguém há de se ferir mortalmente. Quando isso acontecer, a partida termina, embora outra possa recomeçar. Só quando aparecer a mensagem game over é que tudo se finda ou tudo se desfaz e será cada um por si.

A parte de mim que é desejo é a mais diferente de todas. Adora a sensação de liberdade. Sair é aventurar-se, despertar para o mundo. É volúpia. Dada aos prazeres do mundo. Escolheu esse caminho. Contudo, apresenta defeitos como toda parte de mim que é mortal. Pouco se importa com o mundo a sua volta. Foi criada pela sociedade de consumo. É egoísta, não respeita o tempo dos outros, tudo tem que ser do seu jeito e a sua hora. Quer tudo, mas nada tem.

A parte de mim que é desejo adora implicar com a parte de mim que é paixão. Apesar disso, se dão muito bem. Opostos complementares. Quando a parte de mim que é paixão quer desistir do jogo de paciência, é a parte de mim que é desejo que a acalma e indica o caminho da melhor jogada. Talvez seja a parte de mim mais equilibrada e a mais forte de todas. Esconde em doçura a frieza com que enxerga a vida. Não chora. Guardar para si todas as lágrimas e ainda ajuda a enxugar as lágrimas de parte de mim que é amor e parte de mim que é paixão.

Três partes compõe-me o todo. Irmãs tão diferentes que optaram escolher caminhos diferentes. Agora, buscam reencontrar o equilíbrio do todo. Um eixo que as conduza. Três partes em um único todo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dificílimas

O que é melhor: um copo meio cheio ou um copo meio vazio?

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"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior".

[Trecho de Copo Vazio, Chico Buarque]