sexta-feira, 4 de julho de 2008

O vôo dos Arigós


Saúde e Alegria leva a caravana para navegar pelo Tapajós. Foto: Isabelle A.

Só quando ela surge ali, impávida, agigantada pela beleza e pelo esplendor, é que se dá conta de onde se está: Amazônia. Precisamente em Santarém, parte oeste do estado do Pará. Os jovens jornalistas nordestinos (Ceará, Piauí e Maranhão) que visitam a floresta pela primeira encantam-se com aquele pedaço que também faz parte do Brasil. É uma nova experiência. Culpa (ou desculpa) do Laboratório Ambiental para Estudantes de Jornalismo, promovido pela Fundação Konrad Adenauer e o Programa Saúde e Alegria (PSA). A proposta? Sair das redações para conhecer outra realidade e trazer uma reportagem pronta. Ah! Lembra até uma certa Realidade...

Mesmo os jornalistas mocorongos* ainda não conheciam tão bem o lugar em que moram. Vez por outra, dava pra ouvir o pensamento de um dizendo “muito prazer Tapajós”. O não-conhecer os lugares não é privilégio deles. A verdade é que pouco se conhece do próprio espaço.

E não é apenas a floresta que encanta. De um lado ao outro, um rio extenso de águas claras duela com outro rio de águas barrentas. Os guerreiros Tapajós e Amazonas passam dias e noite a duelar no espetáculo das águas. É uma batalha sem vencedores. Ou melhor, os vencedores são aqueles que param e fitam o olhar para admirar a beleza de tudo.

Talvez o espanto seja só coisa dos Arigós** que chegam a terras dominadas por tanta água e mato e começam a se assombrar com o tamanho de tudo. Falta de costume. De onde eles vêm os rios não passam de um filete de água que só escorre em época de chuva. Quando o inverno não é bom, o solo racha de tão seco que fica. Só um rio é capaz de permanecer cheio o tempo todo. Isso porque foi artificializado. Mas, comparado ao Tapajós, não passa de um filete de água canalizado. Isso porque de uma margem a outra, o Tapajós chega a ter 19 km de extensão.

É por isso que os Arigós arribaram pras bandas do Pará nas décadas passadas. Fugiam da seca e da miséria. Primeiro foram Foram em busca de água para beber e terra disponível para plantar. O problema é que a terra disponível, e a indisponível também, foi parar nas mãos de poucos (para variar). Os que querem mais terra para plantar soja vão abrindo clarões no meio da mata, destruindo grandes riquezas. E o desmatamento, é tão grande quanto à floresta. Vai assustando. É aí que se para pensar no futuro. Uau. Que futuro? Quando se volta de lá, Paroara***, a idéia de transformação se aguça. O futuro vira então uma inconstância e o presente é o dever da mudança.


*Mocorongos - Diz-se dos nascidos em Santarém.

** Arigós – Nome dado aos nordestinos que se instalaram no norte do País.

*** Paroara – Nome dado aos nordestinos que voltaram aos seus estados de origem.

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Participei de toda a aventura. Foram quatro dias de palestras e aventuras pelo Rio Tapajós. Experiência inesquecível. Pena que não se faz mais jornalismo assim: de mochila nas costas e caneta na mão. Outros tempos...


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